Cirurgia para doença de Parkinson (cirurgia de DBS): o que você precisa saber
- Ariely Teotonio Borges
- 26 de dez. de 2024
- 4 min de leitura
A cirurgia de Estimulação Cerebral Profunda (DBS) vem transformando a vida de muitas pessoas com Parkinson. Esse tratamento inovador pode ajudar a controlar sintomas motores que os medicamentos já não conseguem, melhorando a qualidade de vida e oferecendo mais liberdade de movimentos. Vamos entender o que é a DBS, como funciona e para quem ela é indicada.
O que é a estimulação cerebral profunda (DBS)?
A DBS, ou Estimulação Cerebral Profunda, é uma cirurgia que utiliza eletrodos implantados em áreas específicas do cérebro que controlam o movimento. Esses eletrodos são conectados a um dispositivo parecido com um marcapasso, que é implantado sob a pele, geralmente na região do peito. O dispositivo envia impulsos elétricos constantes ao cérebro, ajudando a regular a atividade anormal que causa os sintomas motores do Parkinson.
A cirurgia DBS é reversível e ajustável, permitindo que o neurologista personalize a intensidade da estimulação ao longo do tempo, conforme o paciente responde ao tratamento.
Como a DBS funciona no controle dos sintomas do Parkinson?
A doença de Parkinson é marcada pela diminuição da dopamina no cérebro, um neurotransmissor essencial para o controle dos movimentos. Com o avanço da doença, o cérebro sofre um desequilíbrio entre os circuitos que controlam os movimentos, o que leva a sintomas como tremores, rigidez e lentidão.
A DBS atua regulando as atividades elétricas dessas áreas, promovendo uma melhoria significativa em sintomas como:
Tremores: A DBS pode reduzir os tremores, muitas vezes controlando-os de forma mais eficiente que os medicamentos.
Rigidez muscular: A rigidez, que dificulta movimentos e causa desconforto, tende a melhorar com a estimulação.
Bradicinesia (lentidão de movimentos): A DBS ajuda a tornar os movimentos mais fluídos, facilitando atividades cotidianas.
Flutuações motoras: A DBS pode reduzir as variações bruscas no controle motor, comuns em estágios avançados da doença, chamadas de períodos “on” e “off”.

Para quem a DBS é indicada?
A DBS é indicada principalmente para pessoas com Parkinson que:
Estão em estágio intermediário ou avançado da doença.
Têm sintomas motores que já não respondem bem aos medicamentos.
Apresentam efeitos colaterais importantes com altas doses de medicamentos, como movimentos involuntários (discinesias).
É essencial que o paciente passe por uma avaliação detalhada com neurologista e neurocirurgião. Além disso, a DBS pode não ser indicada para pessoas com condições psiquiátricas graves, como demência ou depressão severa, já que esses fatores podem impactar os resultados da cirurgia.
Como é a cirurgia de DBS?
A cirurgia DBS é realizada em duas etapas:
Implante dos eletrodos no cérebro: Pequenos eletrodos são inseridos em áreas específicas do cérebro que controlam os movimentos. Essa etapa é feita com a ajuda de imagens de ressonância magnética e tomografia para garantir precisão.
Implante do estimulador: Em seguida, é implantado o dispositivo que envia impulsos elétricos aos eletrodos. Ele é colocado sob a pele, geralmente próximo à clavícula, e conectado aos eletrodos por meio de um fio fino que passa pelo pescoço.
Após a cirurgia, o neurocirurgião ajusta o aparelho DBS ao longo de várias consultas, para definir a frequência e intensidade da estimulação.
Recuperação e ajustes pós-cirúrgicos
A recuperação da DBS varia de pessoa para pessoa, mas geralmente envolve:
Tempo de recuperação: A hospitalização dura de 1 a 2 dias (a depender do paciente), e a maioria das atividades cotidianas pode ser retomada em poucas semanas.
Ajustes da estimulação: Nos primeiros meses, o médico realiza ajustes na DBS, para encontrar a configuração ideal que trará os melhores resultados com o menor número de efeitos colaterais.
O acompanhamento contínuo é essencial, pois o Parkinson é uma doença progressiva, e o tratamento pode precisar de ajustes ao longo do tempo.
Resultados e benefícios da DBS
Os benefícios da DBS variam, mas muitos pacientes relatam uma melhora considerável na qualidade de vida. Estudos indicam que a DBS pode:
Prolongar o tempo dos períodos “on”, quando os sintomas motores estão controlados.
Diminuir a necessidade de medicamentos, reduzindo efeitos colaterais como discinesias.
Proporcionar um melhor controle motor e aumentar a independência nas atividades diárias.
No entanto, é importante lembrar que a DBS não é uma cura para o Parkinson e não interrompe a progressão da doença. Ela oferece um controle dos sintomas e uma melhora na qualidade de vida, mas o paciente continuará a necessitar de acompanhamento médico regular.
Possíveis efeitos colaterais
Como todo procedimento, a DBS pode ter efeitos colaterais, como:
Infecção no local do implante
Dor ou desconforto no local do dispositivo
Alterações de humor ou comportamento
Problemas temporários de fala ou equilíbrio
Esses efeitos geralmente são leves e controláveis com ajustes na estimulação ou cuidados pós-operatórios.
Considerações finais
A cirurgia de DBS tem trazido esperança para pessoas com Parkinson, especialmente para aquelas que já não conseguem controlar bem os sintomas apenas com medicamentos. Essa opção permite que o paciente ganhe mais qualidade de vida e controle sobre os movimentos, oferecendo uma maior autonomia e conforto no dia a dia.
Se você ou alguém que conhece está avaliando a DBS como uma possibilidade, converse com um neurologista especializado para uma análise aprofundada. O sucesso do tratamento depende da escolha correta dos candidatos e de um acompanhamento próximo com a equipe médica.
Sou Dra. Ariely Teotonio Borges, médica neurologista, e trabalho junto com cada um dos meus pacientes, utilizando estratégias que os ajudem a melhorar sua rotina e qualidade de vida.
Fontes:
Mayo Clinic. “Deep Brain Stimulation.”
Cleveland Clinic. “Parkinson's Disease: Deep Brain Stimulation.”
National Institute of Neurological Disorders and Stroke. “Deep Brain Stimulation for Parkinson’s Disease.”
U.S. National Library of Medicine. “DBS for Parkinson’s Disease.”
Harvard Medical School. “Deep Brain Stimulation in Parkinson’s Disease Management.”
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